Onde autoridade encontra afeto: por que Pamela Massuia, entre estratégia, cuidado e alta performance, se tornou a cirurgiã querida das empresárias brasileiras
- Evely Oliveira
- há 1 hora
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'HEALTH' EDITION COVER - NOVEMBER 2025 ISSUE

Há trajetórias que não começam com certezas: começam com coragem. E há mulheres que, mesmo antes de saberem quem seriam no mundo, já carregavam dentro de si o gesto mais essencial da medicina: o cuidado.
Ela é filha de uma Psicóloga e de um Engenheiro; cresceu entre conversas profundas, disciplina e afeto. Irmã mais velha de gêmeos engenheiros, taurina de alma firme, e hoje, aos 43 anos, olha para sua história com a serenidade de quem caminhou por estradas difíceis e ainda assim escolheu, sempre, continuar.
A maternidade, a perda, a persistência, o amor e a vocação moldaram a mulher que se tornaria não apenas Cirurgiã Plástica, mas um lugar seguro para outras mulheres, especialmente mães, reencontrarem a própria autoestima.

A medicina não foi um caminho reto. Foram anos de dúvidas, tentativas, vestibulares, mudanças, saudades, trabalhos intensos e dívidas que ultrapassaram meio milhão de reais. Mas havia algo que nunca se dissolveu: o chamado. O chamado para cuidar.
Na residência, percebeu que seu olhar não era apenas técnico: era sensível. A reconstrução, as queimaduras, a anatomia e a delicadeza do detalhe a guiavam para a Cirurgia Plástica. E o Centro Cirúrgico, com seus ruídos, cheiros e rituais, tornou-se sinônimo de Pertencimento.
Sua especialização mais profunda, no entanto, não nasceu em um hospital. Nasceu em casa.

Valentina e Lucca: a revolução silenciosa da maternidade
Com a chegada de Valentina e, depois, de Lucca, tudo mudou. Corpo, ritmo, prioridades e identidade foram reorganizados. E foi justamente nesse espelho íntimo, o mesmo onde tantas mulheres também se veem, que ela encontrou seu propósito mais humano.
Ao vivenciar suas próprias mudanças pós-gestação, começou a receber outras mães que buscavam não apenas um corpo renovado, mas uma identidade reencontrada. Assim nasceu sua especialidade mais marcante: o mommy makeover, um gesto cirúrgico que devolve às mulheres não apenas formas, mas energia, pertencimento e autoestima.

Desde 2018, ela e Ricardo, Neurocirurgião, marido e companheiro há 22 anos, transformaram RP & Clinic em um espaço onde ciência, cuidado e humanidade caminham lado a lado. Eles se conheceram no primeiro ano da faculdade. Ele foi sua força emocional, sua estrutura, seu apoio silencioso. Ela sempre diz que teve muitos anjos no caminho.
E houve um anjo maior: seu pai.
O Alzheimer chegou cedo, aos 54 anos. Ela acompanhou tudo. Cuidou dele até o último dia, o dia em que ele faleceu em seus braços depois de ela pedir, com amor e dor, que ele descansasse. Essa despedida moldou profundamente sua forma de ver a vida, o corpo, a beleza.
Ela não acredita em exageros. Não acredita em procedimentos que deformam identidades. Não acredita em modismos estéticos que sacrificam saúde. Seu estilo é quiet luxury: resultados elegantes, discretos, minimalistas e profundamente respeitosos ao corpo de cada mulher.
Na consulta, dedica mais de uma hora a cada paciente. Risca cada contorno. Desenha futuros. Elas saem marcadas. E riem. E se reconhecem.

No pós-operatório, ela está lá, literalmente. Na hora de fechar os olhos. E na hora de abri-los. Entrega seu número pessoal. Responde tudo. Com dois filhos, vida corrida, consultas e cirurgias. Mas responde. Porque, como ela diz: “Elas me escolheram.”
Para ela, beleza não nasce do Bisturi. Nasce da soma de atitudes, energia e presença. Há pessoas lindas que não sustentam essa beleza na convivência. E há pessoas comuns que se tornam extraordinárias pela generosidade, pela leveza, pelo caráter.
O futuro da estética, para ela, cabe em uma palavra: harmonia.
O simples.
O elegante.
O que permanece.
A moda sempre esteve presente. Consumista assumida (hoje, um pouco menos por causa dos filhos, conta entre risos), acredita que vestir-se é um espelho emocional e que saúde estética também passa pela forma como nos movemos no mundo.
Essa matéria não é sobre cirurgia plástica. É sobre coragem. Sobre uma mulher que atravessou dívidas, perdas, maternidade, cansaço e escolhas difíceis. É sobre alguém que encontrou na Medicina não apenas uma carreira, mas um espaço de cura emocional para si e para outras mulheres.

A história dela não é bonita porque é perfeita. É bonita porque é real.
E agora, depois de conhecê-la pela "lente" da narrativa, é hora de ouvir sua própria voz aquela que aprofunda, complementa e revela ainda mais sua trajetória.
1. Quando você olha para sua trajetória, qual é a primeira memória que te conecta com a medicina? Houve um “clique” em que você percebeu que a Cirurgia Plástica era o seu lugar no mundo?
Medicina não foi a minha primeira escolha. Veterinária e Jornalismo eram as profissões que vinham na minha cabeça.
Quando eu era pequena, tive um cachorrinho que sofria de convulsões. Eu ajudava a cuidar dele nas crises. Ele ficou comigo até os 18 anos e se chamava Luck. Eu sempre tive esse sentimento de cura e cuidado dentro de mim, mas sabia que não seria de animais, porque eu tinha muita dó deles. Não me imaginava operando um cachorro (risos). A plástica veio bem depois.
Medicina foi uma conquista um caminho nada fácil. Prestei vestibular por três anos. Quando pensei em faculdades particulares, prestei também em Portugal. Morei lá por três meses, e foi uma experiência incrível, porém triste. A saudade da família e me ver sozinha todos os dias me angustiava. Voltei.
Prestei Odontologia na Fuvest e particulares, pensando em conseguir uma bolsa e passei. No dia do trote, minha mãe chegou com uma toalhinha bordada com um dente. Fiquei muito triste.
Não era aquele o futuro que eu queria.
De tarde, depois do banho ainda tirando a tinta do trote entrei no site da PUC-SP e, para minha surpresa: passei! Foi uma mistura de alegria e tristeza. Liguei na hora para o meu pai. Ele me disse:
“O que você quer, gatinha? ”E eu respondi: “Medicina.”
Ali, a vontade apareceu como nunca antes. E assim foi.
Alguns meses de ônibus Cometa de São Paulo a Sorocaba, dias inteiros de aula. Um cansaço enorme logo no início. Depois de três meses, vi que seria impossível continuar morando em São Paulo.
Eu teria que morar em Sorocaba: mais um gasto.
Meu pai teve condições de pagar apenas a primeira parcela da faculdade. O restante eu fui tentando por bolsas. Me formei com dívida da PUC e do FIES mais de 500 mil reais, com juros.
Na faculdade, eu pensava o tempo todo em Ginecologia. No quarto ano, decidi fazer estágio na área: não gostei. Não seria isso que eu faria para a vida toda. Decidi então pensar em Cirurgia Geral e, depois, quem sabe Vascular ou Plástica?
A plástica, desde os queimados às reconstruções, passando pelas cirurgias estéticas, sempre me encantou. Viver naquele ambiente era o que eu queria. O cheiro do centro cirúrgico, aquela roupa, tudo me encantava.
Não foi fácil. Foram seis anos de faculdade, dois de Cirurgia Geral, três de Plástica. Depois, já de volta a São Paulo, decidi fazer mais uma pós-graduação em Face, Rinoplastia e Cosmiatria avançada.
Porém, hoje, minha maior atuação veio da minha transformação como mãe. Depois da Valentina, meu mundo mudou: Tenho dois filhos, Valentina, que vai fazer oito anos, e Lucca, que fez cinco. O corpo mudou. O propósito também. Comecei a atrair mulheres que também tinham passado por transformações corporais e buscavam uma nova versão de si mesmas após a maternidade.
Foi aí que surgiram as cirurgias de mommy makeover, que são as que mais realizo hoje.

2. Existe alguma frase, princípio ou filosofia que define a sua visão de beleza?
Beleza, para mim, só é completa junto das atitudes. Quantas pessoas são lindas, mas a soma do contexto não as torna tão bonitas assim, não é? Ao contrário, algumas pessoas são tão carismáticas, agradáveis, cheias de boa energia, que se tornam especiais e bonitas, sim.
3. Como você equilibra Técnica, Ciência e Sensibilidade Estética no centro de cada procedimento?
O exagero nunca fez parte da minha formação. Nunca gostei dos resultados exagerados que via de alguns chefes. Elegância e beleza sempre se somam.
O belo, no contexto minimalista e sem extravagância, é onde eu me encontro. E não é fácil trabalhar nessa linha, porque é tênue.
Muitas vezes eu digo “não” para pacientes e sim, perco a cirurgia, mas sigo fiel ao que acredito. Porque sei que talvez aquilo vai causar problemas naquele corpo, vai exagerar.
Gosto de cuidar e dar segurança como se eu fosse a paciente, ou alguém da minha família.
A cultura da minha clínica é baseada em princípios de Respeito, cuidado, Empatia e Nobreza. Minhas pacientes vêm até mim por causa disso não apenas pela técnica cirúrgica. É como se fosse: “uma mãe cuidando de mim e me ajudando a voltar melhor para a minha família”.

4. Na sua opinião, qual é o maior mito sobre cirurgia plástica que ainda precisa ser desconstruído?
Que a cirurgia plástica vai dar a você uma mudança corporal que você não construiu ao longo da sua vida. Se você não mudar hábitos, vai sim perder tudo o que ela trouxe.
Nós, Cirurgiões, fazemos um belo contorno corporal, mas nem todo o sucesso vem do Centro Cirúrgico. Metade é minha, metade é da paciente. Disciplina e constância precisam estar presentes para que o resultado se perpetue.
5. Como você acredita que sua abordagem te diferencia de outros profissionais da área?
Sou conhecida por realmente dar muita atenção e muitos retornos. Sempre gostei de cuidar, ouvir e entender todas as fases do pós-operatório.
Eu me diferencio em vários aspectos, desde a primeira consulta: fico mais de uma hora com a paciente. Já desenho no corpo dela tudo o que vou realizar no centro cirúrgico elas já saem todas riscadas da consulta (risos). Elas adoram!
Eu estou presente no pós-operatório imediato. Estou na hora de fechar os olhos e quando elas abrem os olhos novamente.
No pós, elas têm meu celular pessoal. Sou eu quem responde. Não é minha enfermeira ou fisioterapeuta: sou eu, ajudando em todos os aspectos.
Mesmo com dois filhos e uma vida corrida de mãe e mulher, estou lá por elas. Elas me escolheram.

6. Você consegue lembrar de um caso específico em que percebeu a transformação emocional de um paciente além da estética?
Tenho tantas histórias de mudanças e renascimentos dessa “nova mulher” que daria uma novela! Tanto que vamos lançar um quadro nas redes sociais chamado “Depois dos filhos, antes de mim”, onde vou contar esses casos de mudanças de hábitos, comportamentos, tudo após a cirurgia plástica.
7. O que você considera uma cirurgia bem-sucedida? É o resultado físico, o brilho no olhar, a autoconfiança?
Para mim, uma cirurgia bem-sucedida é aquela sem intercorrências graves, quando no pós-operatório a paciente fica bem, sem dor, e vai percebendo dia após dia sua mudança e sentindo-se extremamente feliz.

8. Ser mulher na Medicina, especialmente como Cirurgiã, ainda é um desafio?
Como foi conquistar seu espaço em um ambiente historicamente masculino?
Hoje, a mulher ganhou muita notoriedade na Cirurgia Plástica, especialmente a Cirurgiã brasileira. Acredito que somos profissionais capazes, detalhistas e que, pelo olhar de segurança e cuidado, muitas pacientes preferem operar com mulheres.
Esse olhar feminino dos detalhes, que só outra mulher enxerga e entende, faz diferença. Até pela vergonha, como nas cirurgias íntimas: muitas pacientes ainda não se sentem confortáveis com homens.
9. Você tem um estilo visual muito marcante. Moda e medicina se encontram no seu dia a dia? Como sua imagem comunica seu posicionamento?
Moda e plástica têm tudo a ver. O corpo é moldado junto ao estilo de cada mulher. As queixas das pacientes vêm justamente do desconforto com roupas, decotes, caimentos.
No meu dia a dia, gosto de transmitir o feminino, mas com elegância e cortes retos. Busco ao mesmo tempo autoridade e respeito, mas sem perder a feminilidade de mulher, mãe e profissional.
Acredito que nosso posicionamento visual estimula outras mulheres e atrai aquelas que se conectam de alguma forma comigo.
10. Se pudesse resumir o futuro da beleza em uma palavra, qual seria?
Harmonia. O simples, sem exageros. O quiet luxury. Assim como na moda, o exagero perde espaço para o elegante para o harmonioso.

11. Que mensagem você gostaria de deixar para mulheres que desejam transformar a própria história, seja na estética, na carreira ou na vida?
Na vida, o arrependimento sempre vem do que não fizemos. O que fizemos e deu errado vira aprendizado.
Eu encorajo minha filha todos os dias a ser verdadeira consigo mesma: com suas vontades, sem machucar ou passar por cima de ninguém. O que é dela virá com esforço e Deus no caminho.
E eu estarei aqui, torcendo e orando para que ela faça boas escolhas.
Você, mulher, deve pensar sempre assim: Não procrastine. Esteja em movimento. O universo sempre estará ao seu favor.





























