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“Ser boa não basta para uma mulher”

Dra Patricia Marques, cirurgiã plástica especialista em cirurgia de cabeça e pescoço, relata obstáculos que enfrentou para conquistar respeito entre os colegas



O histórico das mulheres na sociedade contemporânea é de luta e na área da saúde não seria diferente. Atualmente a participação do público feminino tem sido cada vez mais frequente na medicina, chegando a 50% entre os profissionais de 29 a 34 anos, mas infelizmente essa realidade ainda não se aplica quando a especialidade médica em questão é a cirurgia plástica. De acordo com o censo 2018 da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), apenas 20,6 % dos médicos especialistas na área são mulheres.

Essa falta de representatividade acrescenta diversos obstáculos na vida de doutoras que optaram por essa carreira profissional. “Montar um consultório médico e batalhar uma carreira de sucesso na cirurgia plástica é difícil para todo mundo. O que não imaginava era que o fato de ser mulher seria algo a mais a lidar. Não pelos pacientes, pois muitos me procuram justamente por ser mulher, mas pelo convívio com os colegas, a maioria homens”, conta.

Marques possui currículo impecável. É graduada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, com especialização em reconstrução de mama e cirurgia linfática no Hospital Santa Creu i Sant Pau, em Barcelona, e complementação em cirurgia reparadora de mama, cabeça e pescoço no Hospital Memorial Sloan-Katering Cancer Center, em NY, EUA.

Não bastasse, se tornou pioneira no Brasil em cirurgia de redução de testa, procedimento batizado por ela de frontoplastia de avanço. Desenvolveu há 5 anos técnica individual quando nenhum outro médico realizava o procedimento no país. Tal feito lhe deu notoriedade entre os pacientes e diversos colegas médicos, mas também a fizeram passar por situações inesperadas.

“Na época um colega muito querido e mais velho se afastou de mim. De repente fui descartada e não compreendia o que estava acontecendo. Com um pouco de distanciamento e muita terapia descobri que nada daquilo era culpa minha, mas ele não conseguia suportar a boa repercussão que o meu trabalho estava gerando”, relembra.

E não parou por aí. Conforme ganhava destaque com o sucesso da técnica de frontoplastia de avanço, tornou-se conhecida nos corredores do hospital onde realiza cirurgias e passou a ser cumprimentada por pares, em sua maioria homens, que antes não a notavam. “Certa vez um completo desconhecido entrou na sala e ficou me olhando. Tive que interromper a cirurgia e pedir para que se retirasse. Intrigada, conversei com uma amiga, cujo marido também é referência em um outro tipo de cirurgia plástica e opera no mesmo hospital que eu, que me disse que isso nunca aconteceu com ele”, relembra.

O acontecimento fez Marques refletir sobre o papel fundamental que representa dentro da Cirurgia Plástica e o quanto é importante que outras jovens médicas se sintam representadas. "Infelizmente, nesse processo eu entendi que muitos colegas homens não me respeitariam e que, assim como em outras carreiras, eu teria que ser a melhor. Ser boa não basta para uma mulher”, reflete.

Desde então, Marques conquistou muitos feitos em sua carreira. Tem seu consultório próprio, uma porção de pacientes que confiam em seu trabalho e incontáveis cirurgias plásticas bem sucedidas no currículo, mas segue em busca de aprimoramento constante para além de ser a melhor, permanecer sendo destaque em um ambiente completamente nocivo às mulheres. “Vivo em busca de aprimoramento profissional através de cursos no Brasil e exterior. Resolvi estar sempre um passo à frente, ainda que isso gere uma pressão maior em relação aos meus colegas homens”, finaliza.



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