Cardiologista da Presidência alerta para risco de infarto e AVC causados por inflamações na gengiva
- Matheus Hooks/ Editor-In-Chief
- há 6 horas
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Problemas aparentemente simples na gengiva, como sangramento ao escovar os dentes ou mau hálito persistente, podem estar diretamente relacionados a infartos, AVCs e hipertensão arterial. O alerta é do Dr. Ricardo Camarinha, cardiologista, mestre em clínica médica, especialista em terapia intensiva e medicina de aviação, que atuou por quase duas décadas como médico da Presidência da República.
“A saúde da boca está diretamente conectada à saúde do coração. Quando há inflamação na gengiva, como na periodontite, bactérias e toxinas podem entrar na corrente sanguínea e provocar ou agravar processos como a aterosclerose”, explica o médico, que também é tenente-coronel e criador do programa Viva Mais e Melhor. “É um risco real, mas ainda pouco reconhecido.”
Dr. Camarinha destaca que a boca é a segunda região do corpo com maior diversidade microbiana — perde apenas para o intestino. Quando esse equilíbrio é rompido, ocorre o que os médicos chamam de disbiose oral, que gera inflamação persistente e pode afetar todo o sistema cardiovascular.
“Estamos falando de uma inflamação silenciosa. A pessoa pode estar convivendo com sangramento na escovação ou mau hálito sem saber que isso está, pouco a pouco, contribuindo para problemas sérios como pressão alta e infarto”, afirma. “Não adianta tratarmos o coração com tecnologia de ponta e esquecermos de onde a inflamação pode estar partindo.”
O tema ganhou visibilidade quando Ricardo Bueno, ex-vocalista da banda Dominó, foi internado com uma infecção grave originada de um problema dentário. O quadro evoluiu para septicemia e acendeu um alerta sobre a importância da saúde bucal como parte do cuidado integral com o corpo.

“Casos como o do Ricardo mostram que isso não é teoria. É algo que já está acontecendo e que pode ser evitado com medidas simples e preventivas”, pontua Dr. Camarinha.
Segundo ele, o risco de hipertensão arterial pode ser até cinco vezes maior em pessoas com infecções dentárias crônicas. O mesmo vale para doenças como endocardite infecciosa e insuficiência cardíaca.
“Hábitos diários como escovar os dentes corretamente, usar fio dental e visitar o dentista não são apenas cuidados estéticos, são ações de prevenção cardiovascular. A medicina precisa olhar o corpo de forma integrada”, diz.
Para o cardiologista, a alimentação também é um ponto crucial nesse contexto.
“Uma dieta rica em fibras, vegetais e probióticos ajuda a manter o equilíbrio da microbiota oral e intestinal, enquanto os alimentos ultraprocessados favorecem inflamações crônicas. É uma mudança de estilo de vida.”
O médico defende que campanhas públicas de prevenção ao infarto e ao AVC precisam incluir orientações sobre saúde bucal.
“Ainda falamos pouco sobre isso. É preciso reforçar essa conexão na educação em saúde. Um simples sangramento na escovação não pode ser ignorado. Pode ser o corpo avisando que há algo maior acontecendo.”
Por fim, ele propõe uma reflexão direta:
“Quando foi a última vez que você fez uma limpeza no dentista? Seu cardiologista já te perguntou sobre sua gengiva? Se a resposta for não, está na hora de mudar esse olhar. Cuidar do sorriso é também cuidar da vida.”