Para você, quais as dificuldades dos pais hoje? A maior queixa que recebo dos pais é sobre o desejo de querer ser obedecido pelo filho e não conseguir ganhar essa “obediência” sem ter que usar de ameaças, gritos ou castigos. Uma grande necessidade de controle por parte dos pais faz com que muitos não consigam
considerar o que a criança pensa e sente, e isso acaba gerando muitos desentendimentos na família. A vida corrida e a falta de paciência também é outro fator que trás muitas dificuldades para os pais, pois estão sempre correndo de um lado para o outro com as atividades do dia a dia e acabam sem conseguir dedicar um tempo de conexão e de real qualidade com os seus filhos. Os pais acabam, muitas vezes, preocupados somente com o ter: dar uma boa casa, escolas caras, brinquedos e roupas e esquecem de focar na construção de um relacionamento de qualidade: ‘será que conheço meu filho ou ele está apenas encaixotado nos moldes que desejo?’ é importante parar para avaliar a qualidade do relacionamento, “Escuto o meu filho, tenho tempo para brincar com ele ou só fico dando ordens? ”Outro aspecto é que as dificuldades que surgem, em diversas ocasiões, vêm da dificuldade dos pais de compreenderem o comportamento dos filhos. Isso ocorre especialmente pela falta de habilidade emocional para lidar com as próprias emoções e as da criança, ‘faz porque estou mandando’, “engole esse choro, não tem que ficar triste”! Vivemos em uma cultura que poucos pais buscam conhecimento sobre a infância.
Muitos não entendem as etapas de desenvolvimento cerebral dos filhos e acham que uma criança de 3anos já precisa se comportar como um mini adulto, mas não é assim. A criança precisa de tempo para aprender, leva tempo para treinar novas habilidades, precisa de afeto e se sentir segura para se conectar aos pais e se desenvolver de forma emocionalmente saudável. Quando os pais são autoritários e agem apenas dando ordens, sem ouvi-la, a criança começa alutar para ter seu espaço, para ser reconhecida e isso gera muitas brigas. Na pandemia isso ficou mais exacerbado, pois as famílias se viram do dia para a noite tendo que passar o dia com seus filhos, sem rede de apoio e sem a escola. Isso fez com que aumentasse, inclusive, o número de casos de agressões a crianças no ambiente doméstico. Por outro lado, também fez muitos repensarem seus papeis: ‘será que consigo ficar com meu filho e educá-lo sem agredir ou bater?’, ‘conheço mesmo meu filho? ’.Meu livro foi lançado em plena pandemia e pude, felizmente, levar essa mensagem de respeito a infância a milhares de pais que precisavam de ajuda nesse momento tão desafiador. Educar não é instintivo, precisamos aprender novas formas de agir que convidem a criança a colaboração e não a rebelião. A tomada de consciência é o primeiro passo para você perceber quais atitudes precisam mudar, afinal, os filhos são reflexo dos pais. Temos que nos reeducar para melhor educar, pois o respeito é uma via de mão dupla.
Quais os seus próximos passos? Vou lançar em 2022 a certificação em Educação Neuro Consciente. Inicialmente será em português, voltado aos brasileiros. Meu foco são os profissionais que trabalham com crianças: pediatras, dentistas, psicólogos, pedagogos e vários outros. Esse é um conhecimento pouco difundido nestas formações, e no Brasil não há nada semelhante à disposição na grade curricular das universidades, e esse conhecimento fará uma grande diferença na atuação destes profissionais.
Um exemplo disso é que ainda há inúmeros pediatras que aconselham as mães a deixar em seu bebê chorando no berço para que não fique mal acostumado com o colo, pois pode ficar mimado. E isso não existe, está em nosso DNA, fomos programados assim pela natureza. Nascemos 100% dependentes de nossa mãe e disso depende a nossa sobrevivência, estar próximo ao corpo dela traz a segurança necessária para o bom desenvolvimento emocional e cerebral da criança. Esse é apenas um exemplo de inúmeras crenças equivocadas que são difundidas nas famílias. Acabamos causando muitos traumas nas crianças por essa falta de conhecimento. Acredito que é papel de todos os pais, educadores e profissionais da saúde que lidam com crianças buscar conhecimento sobre o comportamento infantil e compreender a fundo os impactos dos eu papel ao longo da infância.
Por fim, quem é Telma Abrahão? Mãe de um casal, biomédica, especialista em Neurociências comportamental infantil, mulher focada, resiliente e determinada a seguir seu proposito. Alguém que usou as dores da maternidade para se reinventar e hoje se dedica a levar mais consciência as milhares de famílias ao redor do mundo sobre a importância da infância na construção de uma vida adulta emocionalmente saudável. Em suas redes sociais, Instagram @telma.abrahao e Youtube “Telma Abrahão”, compartilha seus conhecimentos, e ensina os pais a educarem seus filhos de forma consciente e empática, contribuindo na construção de relações mais harmoniosas na família e na sociedade.
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