Conheça Flávia Oliveira: a empresária que, aos 27 anos, faturou R$15 milhões, perdeu tudo e agora protagoniza uma retomada histórica rumo ao milhão por mês
- Evely Oliveira

- 21 de jul.
- 9 min de leitura
'BUSINESS' COVER EDITION - JULY 2025 ISSUE

Moda, intuição e resiliência (muita resiliência) moldaram a jornada de Flávia Oliveira, que transformou a dor do fracasso em combustível criativo para reconstruir não apenas sua marca, mas também a si mesma.
Aos 27 anos, Flávia viu seu negócio ruir pela segunda vez. Com dívidas, um time desmotivado e o coração em pedaços, ela encarou o espelho e tomou uma decisão: não iria apenas recomeçar, iria faturar R$1 milhão por mês com seu e-commerce de moda. Era uma promessa ousada, feita entre lágrimas, mas que carregava a força de quem já havia renascido antes.

Nascida em Abaeté, interior de Minas Gerais, ela é de origem humilde e com muito orgulho, filha de uma faxineira e de um operador de máquinas. Cresceu longe dos holofotes, longe de qualquer exemplo de empreendedorismo digital. Mas sempre teve uma certeza: queria algo diferente para si. E quando a vida a levou ao mundo da moda feminina, ela encontrou sua vocação e também seu maior campo de batalha.
Aos 22 anos, Flávia perdeu tudo o que tinha ao deixar uma sociedade mal resolvida. Saiu com uma mão na frente e outra atrás e um processo nas costas. Enquanto lidava com depressão e crises de pânico, decidiu arriscar mais uma vez. Sozinha, foi até uma instituição bancária, conseguiu um empréstimo e abriu sua primeira loja física. A pandemia logo a forçaria a migrar 100% para o digital e foi nesse momento que seu marido se juntou à jornada como sócio, e CEO.

Juntos, em uma cidade com menos de 25 mil habitantes, eles criaram um dos primeiros e-commerces locais, vendendo moda feminina para todo o Brasil. Sem mentores ou networking, aprenderam tudo com vídeos no YouTube e jornadas de trabalho de 18 horas diárias. Em poucos meses, passaram de zero a mais de R$2 milhões em faturamento.
Mas o sucesso rápido trouxe também novos desafios. Em 2022, durante um dos maiores picos da empresa, o site da marca foi plagiado. Golpistas usavam o nome da loja para enganar clientes e entregar produtos falsos. Ela foi acusada injustamente por centenas de pessoas que acreditavam ter sido lesadas por sua empresa. Quando finalmente derrubaram o site falso, outro golpe veio: seu Instagram e as contas de anúncio foram hackeadas. As vendas pararam. As dívidas começaram a se acumular. E a estrutura recém investida começou a ruir.

“Era como se tudo estivesse desmoronando ao mesmo tempo”, relembra. “A cidade já não comportava mais o crescimento que sonhávamos, mas mudar exigiria começar do zero de novo.”
No auge do caos, Flávia adoeceu. Diagnosticada com Chikungunya, mal conseguia se levantar. Mesmo assim, decidiu participar de um reality show de empreendedorismo feminino. Com dor no corpo e alma, entrou determinada a ganhar e venceu. O prêmio de R$50 mil não apagou as dívidas, mas reacendeu sua fé. Era um sinal.
Ao voltar, outro golpe: uma colaboradora violou sua privacidade e vazou para a equipe que ela planejava mudar de cidade. A energia virou contra ela.
“Era como se eu não fosse mais bem-vinda na minha própria empresa”, diz.

O time se desfez. A liderança ruiu. E a decisão de recomeçar em uma nova cidade se tornou inevitável.
Com dívidas de meio milhão de reais e um time reduzido a um colaborador remoto, Flávia transferiu a operação para dentro do próprio apartamento. Dividia os trabalhos domésticos com a gestão do e-commerce. Fazia vídeos, postava, respondia clientes, embalava pedidos. Tudo com o marido ao lado.
“Ou eu desistia ali, ou usava aquilo como trampolim”, diz.
Foi nesse momento que as vendas começaram, pouco a pouco, a ressurgir. As campanhas voltaram a performar. A chama reacendeu.

O ápice da virada aconteceu em Alphaville, quando encontrou Flávio Augusto empreendedor que escutava religiosamente em seus piores dias.
“Eu chorei e disse a ele que sua voz me impediu de desistir. E ele me abraçou.”
Foi simbólico. Foi definitivo. Flávia voltou para Belo Horizonte com uma meta clara: atingir R$1 milhão por mês em vendas.
Hoje, segue crescendo com coragem. Com alma. Com sonhos que ainda são maiores que os números. Flávia já impactou milhares de alunas com suas mentorias e ultrapassou 100 mil pedidos entregues com sua loja. Mas seu maior ativo é a história que carrega e compartilha com vulnerabilidade e propósito.

“Todo mundo mostra o palco, mas poucos mostram os bastidores. Eu quase desisti, mas entendi que meu ‘porquê’ é muito maior. E provar pra menina que fui que sim, era possível.”
Sua história viralizou, e vem inspirando milhares de alunas, clientes e mulheres empreendedoras.
"Ser real é meu maior diferencial."
Flávia está de volta. Com sua comunidade fortalecida, e, com ela, uma nova geração de marcas que não apenas vendem moda mas contam histórias.
Tivemos a oportunidade de entrevistar essa mulher tão necessária e inspiradora.
1. Flávia, sua história parece roteiro de filme. Em que momento você entendeu que a dor que estava vivendo era, na verdade, o ponto de virada?
Eu sempre tive a mentalidade de que, se estou vivendo um momento ruim sem ter causado com minhas próprias mãos, é Deus querendo que eu me mova. Então, desde o início, eu filmava tudo e falava com meu marido: “Um dia tudo isso vai passar e eu vou compartilhar com a minha audiência.” O ponto de virada aconteceu em uma semana em que conseguimos alugar um novo centro de distribuição, comecei uma mentoria com a Isabela Matte e conheci, em um restaurante, o Flávio Augusto. Parece que eu já tinha vivido aquilo, foi uma energia muito diferente. Nesse momento, eu tive a certeza de que o jogo viraria.

2. Muitos empreendedores evitam mostrar suas quedas. Por que você escolheu contar essa parte da sua jornada publicamente, mesmo sendo influenciadora?
Justamente por esse motivo: por ser uma influenciadora. Eu vivi um ano e meio de caos na minha empresa e abria o Instagram todos os dias, só para me deparar com todo mundo que eu seguia feliz, viajando, vendendo horrores e isso me dava até crises de ansiedade. Fazia-me acreditar que somente eu estava passando por tudo aquilo. Prometi para mim mesma que, quando vencesse, usaria a minha história para mostrar que todo mundo tem fases assim. E foi quando postei que quase desisti e recebi mais de 3 mil directs de empreendedores dizendo que também pensaram em desistir que eu vi, de fato, a REALIDADE que estava camuflada no Instagram. Quis mostrar que empreender não é um mar de rosas pelo contrário. Às vezes, você precisará ir ao fundo do poço para voar de novo.
3. Você começou em Abaeté, uma cidade com menos de 25 mil habitantes, e construiu um e-commerce em uma época em que ninguém falava disso por aí. O quanto o fator ‘interior’ te formou como empreendedora?
Vir do interior, para mim, é um dos maiores diferenciais da minha história. Sempre fui uma improvável. Filha de pais humildes, nunca tive um “padrinho” ou alguém que me colocasse em algum lugar importante. Comecei trabalhando em eletrônica, ganhando R$60 por semana. Já trabalhei em lanchonete, vendia bombom na escola. Fui a primeira a ter um e-commerce na minha cidade. Sempre fui inquieta para ser muito grande e reconhecida. Em uma cidade pequena, só conseguiria isso através da internet. Foi assim que ficamos conhecidos como a menina do interior de Minas Gerais que levou sua marca de roupas para todo o Brasil. Isso, para mim, é o mais lindo! Mostra para tantas outras improváveis, em cidades pequenas, que elas também podem.

4. O episódio da traição da equipe foi particularmente doloroso. O que isso te ensinou sobre liderança, confiança e cultura empresarial?
Vi que não poderia mais ser ingênua. Sempre fui o tipo de pessoa que queria ajudar todos os meus colaboradores, mas muitos deles não queriam ser ajudados. Muitas vezes, deixei de me posicionar por medo do que iriam pensar de mim. E quando houve essa traição, percebi que, de qualquer forma, saí como a errada para muita gente. Então, meu maior aprendizado em relação à cultura foi: faça o que é melhor para a empresa e para os colaboradores que querem entregar o melhor. Porque, se você quebrar, é você com você mesma; é você quem corre atrás de honrar suas responsabilidades. Percebi que não existe democracia em uma cultura. Essa é a cultura e, se o colaborador não se encaixa, está tudo bem! Vamos colocar outra pessoa que goste da nossa cultura, e ele pode buscar uma empresa que tenha uma cultura que combine com a dele. Para crescer como queremos, precisamos de pessoas que queiram o mesmo. Isso é o mais importante e o mais desafiador: saber qualificar bem quem vai estar junto com você. Fazer tudo por ele, menos a parte dele!
5. Sua trajetória mostra que queda não significa fim. Para quem está no fundo do poço agora, o que você diria?
Se você entrou aí, sabe como sair. A resposta não está no externo, está aí dentro de você. Para isso, é preciso silenciar tudo à sua volta, para se encontrar. E o mais louco de tudo é que, quando você passa uma vez pelo inferno, você já sabe qual é a saída. Porque as quedas não têm “fim”. Acredito que o que muda mesmo é a nossa capacidade de lidar com cada uma delas. Até porque, se posso falar algo, é que o “sucesso” sempre veio na minha vida após uma queda. Quando pensei: “É, realmente é o meu fim.” Ouvi uma frase um dia que repito para você: E se você soubesse que está a um fracasso do seu sucesso? Continuaria?

6. Se pudesse conversar com a Flavinha que estava prestes a desistir, o que diria para ela?
Confirmaria exatamente a frase que ela ouviu: Você está a um fracasso do seu sucesso. Por mais que pareça não haver saída, continue. Busque se conectar com o seu início com o que você fez quando abriu a empresa. Resgate a energia do dia zero. O primeiro dia em que você começou, a vontade que tinha, o brilho nos olhos.
7. Você quebrou duas vezes, sofreu ataques virtuais e perdeu quase tudo. O que te impediu de desistir de vez?
Pensar em quem eu vou me tornar. Eu sei que ainda serei uma pessoa muito relevante, e essa pessoa exigiu que eu fosse muito forte agora, para continuar. Mais que isso: sou especialista em fracassar e me reerguer. Já ouvi muitos "nãos" na minha vida desde adolescente, na verdade. Nunca tive nada fácil, então já tenho uma cabeça preparada para aguentar o que é desafiador. Já ouvi que não seria ninguém na vida, que não era inteligente como meus colegas do ensino médio. Então, de ataques eu entendo bem. Sei lidar com isso. Na verdade, cada um deles serviu como impulso para querer virar o jogo.

8. Hoje você é referência no digital, com centenas de alunas e uma base fiel. O que mais te emociona ao ver outras mulheres prosperando com o que você ensina?
Ver que a minha história vai muito além de faturamento. Acredito que Deus abençoa a vida de quem, através da sua história, abençoa a vida de outras pessoas também. E foi o que sempre fiz. Desde quando ainda não era mentora, eu já compartilhava a minha história no Instagram. Já contava o que estava dando certo. Então, para mim, é muito uma questão de propósito. Como a série que estou fazendo neste momento: recebo centenas de directs dizendo que não desistiram porque, de alguma maneira, a minha história de superação os motivou a continuar. Isso vale mais que qualquer faturamento.
9. Você acredita que o sucesso é mais sobre técnica ou sobre mentalidade? O que separa quem chega de quem desiste?
Para mim, é 99% mentalidade. Porque, quando você acredita que pode mais mesmo sem ter as habilidades necessárias você começa. E começa ruim, viu? (risos) Mas, a partir desse início, você melhora! Treina todos os dias até se tornar excelente. Quando você tem somente técnica, qualquer “não” te paralisa, qualquer obstáculo te derruba. Eu nunca tive uma empresa sou a primeira empreendedora da minha família inteira. E, mesmo assim, comecei. Errando muito. Sem base empreendedora. Do mesmo modo com a moda: não fiz faculdade, mas comecei. Comecei ruim, errando muito. E foi tentando todos os dias, com a mentalidade de que eu conseguiria e que nada me pararia, que cheguei lá. Hoje, depois de anos de prática, considero que tenho técnica. Mas só tenho porque comecei. Não foi o inverso.

10. E por último, mas definitivamente não menos importante: qual é a sua voz no mundo? Se você tivesse um microfone ligado para o mundo inteiro ouvir, o que gostaria de gritar com o coração aberto?
Muita gente vai dizer que você não pode conquistar tudo o que sonha. Mais que isso: muitos vão tentar te convencer de que não é para você. Mas isso é apenas a visão das pessoas, de acordo com a realidade delas. Se Deus colocou um sonho no seu coração, é porque você tem forças para realizá-lo. Coloque Deus em primeiro lugar, converse com Ele nos momentos difíceis, entregue a Ele o seu caminho. Sempre que tentei assumir o controle de tudo, perdi. Quando entendi que não era sobre o que eu queria, e sim sobre o que Ele queria para o meu caminho, as coisas realmente aconteceram. E, de coração? Aconteceram em uma proporção MUITO maior do que eu queria. Porque os planos dele são muito maiores do que os nossos.
































