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Jaciana Moro: Uma história de superação brasileira em terras inglesas.





Jaciana Moro, Curitibana vivendo em Londres desde 2009, vem nos contar um pouco de sua experiência, e o que a levou a tal mudança.


Ela, que se mudou logo após o ensino médio, nos conta como é possível conquistar seus objetivos e se encontrar profissionalmente diante da diversidade.

Sua experiância nos ensina muito sobre persistência, e sua mensagem nos transmite a sensação de que tudo é possível com luta, dedicação, paciência. e sobre dar a volta por cima e se recusar a cair.



Jaciana hoje é gerente de contas da maior empresa de café da Inglaterra, e também iniciou sua própria empresa de cursos para baristas.


E um spoiler: Jaci vem para se juntar a Hooks para novas aventuras e expêriencias na terra da rainha.



Vem saber mais e se inspirar com essa mulher incrível!




1- Qual foi a sua maior dificuldade na adaptção para essa nova realidade? O fato de ser jovem foi um ponto positivo na mudança de país?


O choque de cultura entre Brasil e Inglaterra, e a hostilidade do brasileiro com seus conterrâneos.


Primeiramente quero deixar claro que não estou generalizando aqui, vou contar somente da experiência que eu tive e vi com meus olhos. Em qualquer lugar do mundo temos pessoas de todas índoles.


Me adaptar a como se vive aqui, foi a maior dificuldade que tive. Claro que o inglês foi essencial, mas mesmo não falando inglês, eu conseguia me virar bem e com 3 meses já estava fazendo voluntariado em uma escola ensinando pessoas idosas a usarem computador.

Os costumes, as coisas que pareciam ser certas no Brasil, mas aqui não e vice versa. O inglês em si é muito correto, e no Brasil sempre temos nosso "jeitinho brasileiro" pra tudo, o que nem sempre é certo!


Quando cheguei, por não ter inglês, não me misturava tanto com pessoas de outras culturas, somente com brasileiros. Isso acabou me fazendo enxergar que, apesar de sermos o melhor povo pra farra, nem sempre somos os mais benevolentes quando o assunto é extender a mão ao próximo. Na minha experiência, por ser tão nova e genuína nessa parte, acabei me ferrando demais. O que por um lado foi muito bom. Me forcei mais ainda a aprender inglês e isso me deu muita oportunidade de me expressar melhor e conhecer pessoas de várias culturas e poder compartilhar histórias e criar novas memórias.


O fato de ser muito jovem foi bom e ruim, pesando muito mais pro bom.

Como eu sai muito nova do Brasil e vim sozinha pra Inglaterra, eu não tinha muita noção das coisas da vida mesmo. Eu estava em um país totalmente diferente do meu, um frio do caramba e sem falar a língua.

"Por estar sozinha e sem amigos, eu acabei descobrindo que eu sou a melhor companhia para mim mesma e que sou muito mais forte do que eu jamais pensaria que fosse."






Hoje trabalho como gerente de contas pra maior companhia de café da Europa, conheço 22 países e falo 4 línguas. Coisa que se tivesse ficado no Brasil, eu provavelmente não teria feito.




2- O que te levou à busca por novos horizontes tão longe de casa? E em que momento percebeu que trabalhar com café poderia ser algo muito maior que apenas um trabalho?


Então, hehe... Eu sai do Brasil com 18 anos e nem foi porque queria sair de lá. Acabei me envolvendo com coisas que não deveria e fui meio que “forçada” a procurar outros caminhos. Graças aos meus pais, que tinham a condição financeira de me ajudar a sair dessa. Fico imaginando quantas “Jacis” que não tiveram a oportunidade de vir mudar de vida no exterior e tiveram um futuro totalmente diferente.

Como a minha intenção não era vir pra Inglaterra, eu não tinha planos de futuro nem propósito.


Com 3 meses aqui eu arranhava no inglês e comecei a fazer voluntariado com pessoas de várias etnias. Isso me fez aprimorar meu inglês, também conhecer outras culturas como muçulmana, hindu e várias outras, mas essas duas últimas foram as que mais me fascinaram.

Com 6 meses aqui eu consegui entrar pro college e comecei a fazer TI. Intenção era melhorar o inglês e fazer criminologia e entrar pra polícia aqui. O que soa estranho, uma pessoa que abusava na droga e mandracagem, querer entrar pra polícia. Bem mente de brasileiro mesmo né haha.


Enfim, como de um ano pro outro os preços das faculdades triplicaram e a mamata dos meus pais acabou, eu tive que começar a trabalhar aqui.


Eu fiz bico de cleaner -fui mandada embora no segundo dia, lavei louça em restaurante e por fim comecei a trabalhar em um fast food aqui.

Eu reprovei no meu primeiro curso de barista -profissão de quem faz café- e fui dita que não era boa com isso. O que me fez ODIAR fazer café, mas sempre fazia com qualidade mesmo não gostando.


Nesse emprego fiquei 6 meses e tive a oportunidade de ser supervisora. Como eu não gostava de lá, pois tinha que acordar às 2 da manhã para chegar no trabalho às 4am, eu mudei de emprego.


Comecei a trabalhar em uma padaria e foi ali que peguei o gosto de fazer café. Sempre fui curiosa em saber o porque as vezes o gosto era bom e as vezes não. Comecei a fazer perguntas e minhas dúvidas nunca acabavam, até que meu gerente me colocou em um curso de café e eu AMEI. O que eu precisava era de paciência para aprender, o que no outro lugar não me foi proporcionado.


Nesse lugar, depois de 3 meses eu virei supervisora, após 6 meses virei assistente de gerente e com um pouco mais de 1 ano na companhia e 22 anos, eu era gerente geral de uma das melhores padarias de Londres. Onde fiquei quase 3 anos.





3- Você hoje é uma Sommelier de café, e criou sua própria empresa de cursos , o que é incrível! Qual seu conselho para as pessoas que estão começando nessa área?


Meu primeiro conselho é aquele clichê: Não desista mesmo quando te digam que você não é bom em algo, mesmo quando várias portas te fecharem na cara, mesmo quando ninguém ao seu arredor te apoia.

O mais importante é você acreditar em si mesmo e saber que pode ir muito mais além de onde quer chegar. E também que se seu sonho não deu certo, você com certeza vai achar algo que vai amar.


Na parte do café, eu recomendo dar um follow na @topaziocoffee e estamos sempre postando conteúdo sobre café nos stories e a cultura de café mundialmente. Logo estaremos postando novidades.


Procurar a saber muito mais além do líquido preto que tomamos. Sobre as origens, como é o processo que o café é colhido, secado, tostado pode mudar o gosto. A qualidade da água. O tempo de extração. São vários fatores que fazem aquele elixir dos deuses ter aquele gosto maravilhoso.


Recomendo também fazer cursos com a Specialty Coffee Association, SCA, que também está disponível em português.



4- Conte mais sobre a cultura inglesa e um "aperitivo" sobre a nova parceria com a Hooks desbravando esse lado do mundo?


A cultura inglesa que vemos nos filmes é maravilhosa, gentil e educada. E realmente em muitas partes da Inglaterra é assim.


Em Londres já é um pouquinho diferente. Londres é a cidade mais diversa do mundo. Existem várias culturas por metro quadrado. Nem sempre se acha o "respeitoso jeito inglês".


O intuito da parceria com a Hooks é de mostrar o lado real das coisas “the real side of things” mostrar o cotidiano em Londres, o pobre e o rico no mesmo metrô, o lado "obscuro" da cidade, a diversidade do dia a dia.


Também queremos mostrar a realidade do imigrante aqui. Por isso começarei a ir em pequenos restaurantes e conversar com os donos que, do nada, começaram e abriram um espaço aqui. Mostrando seus pratos principais e também conversando com os trabalhadores. O que faz um indiano fazer a melhor pizza italiana? O nepalês fazendo o melhor fish and chips?

O que trouxe as pessoas pra cá, quais eram seus sonhos e qual é a sua realidade.






5- E por último, mas não menos importante, qual é a sua voz? O que a Jaciana Moro gostaria de gritar para o mundo?


A infância é uma fase de embasamento, a fase qual lembranças são feitas e ficam marcadas. Para sempre. Mas a lembrança mais triste da infância que uma criança pode carregar é o abuso.


Sofrer abuso na infância, é a eterna sensação de não ter pra onde ir, muito menos que existe um porto seguro. Sofrer a vida toda, fugir de qualquer sentimento bom que ainda possa existir dentro de si.

É se sentir incapaz de amar e ser amado, de se duvidar sempre de que se pode ser alguém.


Minha mensagem é: mesmo sendo difícil, mesmo pensando que vão estar contra você, abra seu coração e converse com alguém sobre isso. Conte cada detalhe, todos os sentimentos que passou, tudo o que sentiu e o que sente.


Para os pais de nova viagem, eduque seus filhos. A educação sexual infantil é muito importante e pode evitar abusos. Leia livros, explique onde se pode ser tocado e onde não, escute quando seu filho disser que não quer ir com o tio(a).


Lembre-se que nem todos os monstros vivem em baixo da cama.



Com o peito repleto de alegria e inspiração me despeço.


Bye, bye!

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